◉Atualizado em 01/11/2025 · 08:58 (BRT)
A semana foi marcada pela adesão de milhares de pessoas aos atos realizados em várias cidades contra a anistia a condenados pelo 8 de janeiro e a PEC da Blindagem, reunindo mais de 40 mil pessoas tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro. A pressão popular culminou na rejeição unânime da blindagem no Senado (26 a 0), enquanto a anistia segue indefinida. Na ONU, Lula e Trump se encontraram em público, com conversas consideradas de “excelente química”. Também no cenário internacional, França, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal reconheceram o Estado Palestino em meio à crise humanitária em Gaza. Entenda mais a seguir.
Protestos contra anistia e PEC da Blindagem reúnem multidões pelo Brasil
Milhares de pessoas foram às ruas no último domingo (21), em protestos realizados em todo o país contra a anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado e contra a chamada PEC da Blindagem — proposta que prevê a necessidade de autorização prévia do Congresso para processar criminalmente deputados e senadores. Convocado por frentes democráticas, centrais sindicais e entidades estudantis, o ato em São Paulo reuniu em seu ápice uma multidão de 42,4 mil pessoas na Avenida Paulista, segundo o Monitor do Debate Público, vinculado à USP. No Rio de Janeiro, o ato teve como destaque shows na orla de Copacabana, juntando Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e Caetano Veloso, que se apresentaram para um público de 41,8 mil pessoas, de acordo com o mesmo Monitor.

PEC da Blindagem é derrubada no Senado por 26 a 0
A PEC da Blindagem pode até ter avançado pela Câmara com a adesão ampla de 353 a 134, mas não vingou no Senado. A repercussão negativa na opinião pública — impulsionada pelos protestos de domingo — fizeram com que o tema fosse rejeitado sumariamente por unanimidade na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), nesta quarta-feira (24), acompanhando o voto contrário do relator Alessandro Vieira (MDB-SE) — e também suscitou uma onda de deputados arrependidos do voto favorável ao tema. (Confira como votou cada parlamentar aqui).
Os discursos de Lula e Trump na ONU e a “excelente química”
A Assembleia Geral da ONU deste ano teve como destaque o retorno do presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump, em meio a tensões geopolíticas crescentes, à guerra tarifária e a críticas à atuação dos EUA em questões climáticas e multilaterais. No pior momento da relação entre EUA e Brasil, marcado por tarifas e pela tentativa de interferência no Judiciário em favor de Bolsonaro, esta também foi a primeira ocasião pública em que Trump e o presidente Lula estiveram no mesmo espaço.
Em seu discurso, Lula fez duras críticas ao genocídio em Gaza e às sanções dos EUA. A conversa de 1 minuto entre os dois líderes nos bastidores recebeu menção de Trump em seu discurso. “Concordamos em nos encontrar na próxima semana. Ele parece um homem agradável. Eu gosto dele, ele gosta de mim. Tivemos uma excelente química. Isso é um bom sinal”, disse.

A semântica entre anistia e dosimetria
O texto do projeto de lei conhecido até a semana passada como PL da Anistia segue indefinido para votação em plenário, em meio a disputas de interesse. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pressionam por uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, enquanto outros deputados defendem uma versão mais restrita, focada na redução de penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro.
Ao mesmo tempo, cresce a mobilização de setores contrários à proposta, como demonstraram os protestos do último domingo. Embora o relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), tente minimizar a questão ao tratá-la como mera discussão sobre “dosimetria”, o projeto tende a ter como principal beneficiário o próprio Bolsonaro, condenado pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) a 27 anos e 3 meses de prisão por participação na tentativa de golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022.
Isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil avança, mas no Senado
A CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado aprovou nesta quarta-feira (24) um projeto (PL 1952/2019) que isenta de pagar o Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil, a partir de 2026. A Câmara, presidida por Hugo Motta (Rep-PB), tem outro projeto similar (PL 1087/2025), sob relatoria do deputado Arthur Lira (PP-AL), posto de lado por meses diante das discussões sobre anistia a golpistas e articulações para blindar parlamentares. Já o texto do Senado teve como relator Renan Calheiros (MDB-AL), notório rival político de Lira. Motta garantiu que a versão da Câmara será votada na próxima quarta-feira (1º/10).
França, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal reconhecem o Estado Palestino
O agravamento da crise humanitária em Gaza, decorrente dos bombardeios das forças israelenses, recolocou a questão do reconhecimento do Estado da Palestina como resposta diplomática, movimento que ganhou mais força nesta semana com a adesão de França, Reino Unido, Canadá, Austrália e Portugal ao grupo de mais de 140 nações — entre elas o Brasil — que já reconhecem oficialmente a soberania palestina. O inquérito mais recente da ONU, feito por uma comissão independente, concluiu que as ações de Israel em Gaza “constituem genocídio”. Israel rejeita o texto. O número de mortos em Gaza já ultrapassa 62 mil desde o começo da ofensiva israelense contra o Hamas, em 2023, segundo autoridade palestina. 83% dos mortos são civis, de acordo com uma investigação do “The Guardian” e de publicações israelenses.
O retorno de Jimmy Kimmel
O talk show de Jimmy Kimmel retornou ao ar nesta terça-feira (23), depois de ter sido suspenso pela Disney (dona da ABC, emissora que o exibe). A medida se deu por conta da repercussão negativa dos comentários do apresentador sobre o assassinato do ativista ultraconservador Charlie Kirk. No entanto, essa decisão passou a ser considerada como mais um caso em que os veículos de mídia nos EUA estão se submetem à pressão do governo Trump — seja para impedir ameaças regulatórias ou garantir seus interesses corporativos, sem considerar os riscos graves à liberdade de expressão. Kimmel expressou que não foi sua intenção menosprezar a gravidade do caso. ■