Quadrinista conquista fãs na web com tiras ácidas e melancólicas

Samuel de Gois conta um pouco do processo criativo envolvendo a série “Corações”, a repercussão com os internautas e diz que prefere os desenhos mais cruéis.
Desenho que ilustra a página do Facebook do artista Samuel de Gois é uma releitura humorada da pintura ‘O Nascimento de Vênus’ (Ilustração: Samuel de Gois/ Divulgação)

Atualizado em 30/04/2020 · 17:35 (BRT)

Ana Beatriz Silva

A partir de um desenho de coração bombeia as várias indagações e melancolias do artista Samuel de Gois. “Não adianta sentir medo do profundo. O perigo está nas coisas rasas”, sugere a personagem no desenho para uma criança com medo de pular na água. A arte do desenhista paraibano com esta frase viralizou nas redes sociais e teve mais de 12 mil compartilhamentos, incluindo os comentários discutindo o significado do desenho.

“Quantos amores indecisos já tivemos? Ou medo de sair do certo para mergulhar no incerto? Acho que esse coração ajuda a entender que não adianta viver com medo”, opina Gois. Outras publicações têm provocado reações semelhantes entre os fãs do artista no Facebook. Samuel, por sua vez, atualiza a página diariamente com os desenhos.

Esta é a publicação mais conhecida de Samuel, com mais de 16 mil compartilhamentos no Facebook (Ilustração: Samuel de Gois)

“Gosto de desenhar desde sempre, mas publico tiras na internet desde 2004. Comecei em um fotolog, em seguida um blog, depois Facebook e atualmente tenho me aventurado no Instagram também”, comenta o artista. Samuel conta que começou os desenhos como forma de expressão, pois, de acordo com o desenhista, “os gordinhos tímidos, para chamar atenção e fugir dos valentões, viram piadistas ou aprendem a desenhar”.

Processo criativo

O projeto, que antes era conectar as pessoas, hoje ajuda o artista se conectar com ele mesmo. E o público se identifica, talvez pela universalidade das temáticas abordadas. Frases como “na verdade, o que você sente por mim é medo de ficar sozinho” despertam o interesse dos leitores para seguirem o trabalho do quadrinista.

‘Quando emperra tem que sacudir’: os corações desenhados por Samuel despertam o interesse dos leitores, com uma boa dose de melancolia (Ilustração: Samuel de Gois/Divulgação)

Outras ilustrações dispensam os textos e, ainda assim, questionam determinados comportamentos humanos com uma mistura de precisão e subjetividade. Samuel também resgata referências na cultura pop e já prestou homenagens a figuras conhecidas como a vereadora Marielle Franco e Stephen Hawking.

“A ideia é a parte mais difícil. Estou sempre anotando frases, palavras chaves ou conceitos que possam me ajudar. Tento acumular o máximo dessas coisas para na hora de desenhar recorrer a elas. Como tenho produzido bastante, aprendi sobre meus mecanismos cognitivos de criação e como estimulá-los. De fato, o cérebro é um músculo, e, quanto mais você exercita, mais conexões você consegue fazer, e, consequentemente, mais ideias”, explica Samuel de Gois.

Artista da Paraíba é quadrinista e autor da série ‘Corações’, disponibilizada diariamente nas redes sociais (Ilustração: Samuel de Gois/Divulgação)

Motivado com o retorno do público, o artista é categórico ao responder que seus desenhos preferidos são aqueles “mais cruéis”. Além de compartilhar seus trabalhos na internet, o quadrinista conta que gosta de fazer zines e de participar de feiras. “Gosto muito do papel”, diz.

Para a produção dos corações, série que conta com cerca de 170 ilustrações, o desenhista leva em torno de 30 minutos até duas horas, dependendo do signo. Com o material mais do que suficiente para um livro, as doses diárias continuam sendo distribuídas aos internautas, tanto diluída de forma homeopática quanto com gosto amargo da melancolia.

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