‘Todo dia era um dia de resistência’: viúva de Marielle Franco fala sobre a luta do casal contra o preconceito

Vídeo publicado pela Anistia Internacional dá início a mobilização para pressionar autoridades na punição dos envolvidos na execução da vereadora e do motorista, há exatos três meses.
Monica Benício, companheira de Marielle, gravou homenagem para o perfil da Anistia Internacional (Foto: Reprodução/Facebook/Anistia Internacional)

Atualizado em 30/04/2020 · 18:12 (BRT)

Tiago de Moraes

“A gente não vai deixar de amar porque está dentro de um contexto social onde parte das pessoas não acredita que esse amor seja legítimo”, diz Monica Benício, companheira de Marielle Franco, em um vídeo publicado na terça-feira (12) pela Anistia Internacional no Facebook. Há exatos 90 dias, a vereadora do PSOL e o motorista, Anderson Gomes, foram executados a tiros no Rio de Janeiro.

Na filmagem compartilhada no Dia dos Namorados, Monica, que também é ativista dos Direitos Humanos, compartilha algumas lembranças de Marielle, a luta contra o preconceito e o apoio que tem recebido nos últimos meses. “Eu e Marielle nos conhecemos há 14 anos. E entre muitas idas e vindas a gente teve o relacionamento ao longo desse tempo. A gente tinha uma certa resistência a tornar o relacionamento público, mas ela era muito maravilhosa com isso, essas coisas de demonstração de afeto, recorda. (Veja o vídeo abaixo).

Ainda de acordo com a companheira da vereadora, a expressão mais significativa do comprometimento pela causa LGBTQ estava na divulgação da vida pública, além dos posicionamentos no parlamento. “Todo dia era um dia de levantar e dia de resistência. Por ela, tinha fotinho todos os dias”, revela a ativista na filmagem.

“[A postura de Marielle] era não esconder o relacionamento que a gente tinha, reforçar que isso era um amor que era legítimo, que era feliz, que nossas famílias existem. Eu acho que essa era a principal forma de ela lutar dentro dessa causa, enumera Monica Benício, viúva de Marielle Franco.

O vídeo também dá início a uma mobilização da Anistia Internacional para pressionar autoridades em busca de avanços nas investigações e na punição dos envolvidos no assassinato da vereadora, ocorrido em março.

“O apoio tem sido muito grande. É isso que ajuda a manter a luta. É isso que faz com que eu levante de manhã, que dê algum sentido. É saber que existe essa rede de afeto mundial. Então, toda manifestação de carinho, toda manifestação de afeto… Tá se mobilizando, tá cobrando justiça, tá pressionando as investigações, mas, sobretudo, lutando para que não haja mais Marielles”, afirma Monica Benício na gravação.

Três meses depois, as investigações apontam mais dúvidas do que respostas. As investigações levantam a hipótese de que a execução foi ordenada por milícias, grupos criminosos com participação de policiais, bombeiros e agentes penitenciários que desenvolvem atividades ilícitas nas comunidades e se impondo com uso de violência.

A atuação política de Marielle nas comunidades da Zona Oeste carioca teria incomodado os milicianos, segundo reportagem do jornal O Globo. Uma testemunha do caso teria relatado à Polícia Civil que um vereador e de um ex-PM queriam a morte da parlamentar. O ex-PM já se encontrava preso suspeito de crime semelhante. Ambos negam as acusações, de acordo com informações publicadas pelo G1. Contudo, o caso está longe de ser solucionado.

A organização pelos Direitos Humanos abriu uma petição onlineendereçada a autoridades como o Ministro da Justiça, Torquato Jardim, o Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, General Richard Fernandez Nunes, o Chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, o Procurador Geral do Ministério Público do RJ, Eduardo Gussem e a Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Macedo Duprat de Britto Pereira, além de colocar um anúncio em um outdoor próximo ao local do crime, no bairro Estácio. Até a atualização da reportagem, às 10h de 20/06/2018, mais de 40 mil pessoas participaram da ação promovida pela Anistia Internacional.

Petição online pedindo justiça a Marielle Franco teve adesão de mais de 40 mil pessoas (Screenshot/anistia.org.br)

Marielle Franco se formou pela PUC-Rio e fez mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com foco nas UPPs. A ativista também coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado do deputado Marcelo Freixo (PSOL). Na atuação política, denunciava violações aos Direitos Humanos nas comunidades cariocas e a violência policial contra a população negra. Franco deixou uma filha de 19 anos.

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