Facebook derruba 196 páginas acusadas de espalhar notícias falsas no Brasil e perfis ligados ao MBL

Grupo acusou empresa de querer censurar o movimento; Rede social afirmou que as páginas e contas faziam parte de uma rede coordenada para compartilhar boatos e conteúdo ofensivo.
Facebook retirou mais de 190 páginas que seriam ligadas a uma rede de promoção de “fake news”, parte delas do MBL; Grupo criticou rede social por suposto “partidarismo” (Fotos: Reprodução/Facebook; Ilustração: Tiago de Moraes/ZACHPOST)

Atualizado em 30/04/2020 · 17:57 (BRT)

Tiago de Moraes, João Rafael Venâncio

O Facebook anunciou nesta quarta-feira (25) a exclusão de 196 páginas e 87 contas que teriam sido usadas para disseminar notícias falsas e outros conteúdos duvidosos por violações às diretrizes de autenticidade da rede social. No comunicado assinado pelo líder de cibersegurança da empresa, Nathaniel Gleicher, não foram citadas quais páginas saíram do ar, mas o Movimento Brasil Livre (MBL) alega que perfis de “coordenadores” do grupo foram afetados.

De acordo com a empresa, essas contas e páginas “faziam parte de uma rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação”. A exclusão das páginas, que juntas somavam centenas de milhares de seguidores, foi revelada primeiramente pela agência de notícias Reuters.

A agência de notícias apontou, segundo relatos de fontes anônimas, que a rede era operada por “membros importantes” do MBL. A lista de atingidos ainda inclui perfis de direita e páginas de sites de notícias frequentemente compartilhadas nos perfis oficiais do MBL, como o “Jornalivre”, “O Diário Nacional” e “Ceticismo Político” — conhecidos pelas matérias sensacionalistas sobre política, sob uma abordagem estritamente conservadora, e acusados de disseminar boatos em vários casos de grande repercussão. A reportagem de ZACHPOST confirmou que as páginas não estão mais disponíveis.

Outra conta retirada do ar foi o perfil do movimento “Brasil 200”, presidido pelo empresário Flávio Rocha, dono da Riachuelo e que chegou a fazer pré-campanha à Presidência da República pelo PRB — também com o apoio do MBL, mas declinou da ideia. “Conclamo a bancada do Brasil 200 no Congresso Nacional a tomar posição sobre essa arbitrariedade. Nem no tempo da ditadura se verificava tamanho absurdo”, reclamou no Twitter.

Após a derrubada das páginas, uma das lideranças do grupo de direita, Kim Kataguiri, acusou o Facebook de promover uma “censura escancarada” e criticou os veículos de imprensa, os quais chama de “fake news”. A rede social, por outro lado, trava uma batalha há meses contra grupos conservadores por conta da disseminação de notícias falsas por meio de estratégias — algumas delas ilegais — de engajamento e direcionamento.

O vazamento de dados do Facebook pela Cambridge Analytica, considerado determinante para o sucesso eleitorais das campanhas de Donald Trump à presidência e pelo Brexit, aumentou a pressão em cima da empresa para diminuir o alcance de boatos e conteúdos ofensivos, às vésperas de mais um processo eleitoral no Brasil.

Entre as medidas, a rede social firmou parcerias com agências de checagem de fatos e implementou mudanças significativas nos anúncios e páginas com o objetivo de aumentar a transparência. Segundo dados divulgados pela empresa, cerca de 15 mil pessoas trabalham em segurança e revisão de conteúdo — e o número deve chegar em 20 mil pessoas nessas equipes até o final do ano. Acrescenta ainda que as contas e páginas foram derrubadas “depois de uma rigorosa investigação”(Confira a nota completa abaixo).

O MBL alega que as iniciativas são definidas por fatores ideológicos e fala em “perseguição” por parte da empresa. “Já há muito o Facebook tem sido alvo de atenção internacional, por conta do viés político […], manifestado ao perseguir, coibir, manipular dados e inventar alegações esdrúxulas contra grupos, instituições e líderes de direita ao redor do mundo”, diz a nota assinada pelo movimento.

Nos últimos dias, o grupo já tinha criticado a rede social por retirar a página “Corrupção Brasileira Memes”, outra página associada ao movimento, o que o MBL também nega. O grupo promete ainda que irá “utilizar todos os recursos midiáticos, legais e políticos […] para recuperar as páginas derrubadas e reverter a perseguição sofrida, com consequências exemplares para essa empresa”.

“Não fique alienado, acesse nossos outros canais de comunicação”, sugere o post publicado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), na tarde desta quarta-feira, no perfil do grupo no Facebook. Pré-candidato a deputado-federal, Kim também aproveitou para apelar aos seguidores a contribuírem com a campanha. “Para lutarmos contra a censura e o autoritarismo”, sugere em letras garrafais. Enquanto isso, o procurador do Ministério Público de Goiás (MPF/GO), Ailton Benedito, entrou com um pedido para que o Facebook se explique sobre a remoção de páginas.

A rede social tem 48 horas para apresentar a “relação de todas as páginas e perfis removidos” e a “justificativa fática específica […] para cada página/perfil excluído”. Não é a primeira vez que procurador do MPF/GO se envolve em uma ação relacionada ao MBL e contra o Facebook. Segundo reportagem da revista “Piauí”, em setembro do ano passado Benedito convidou Kim Kataguiri para participar da audiência “Segurança Pública e Manifestações Sociais”, juntamente com integrantes do movimento Vem pra Rua e membros do empresariado.

Horas antes de entrar com o pedido de explicações, o procurador criticou a medida do Facebook e a cobertura da imprensa. “O #Facebook ligou o módulo CCC: Comando de Censura aos Conservadores durante as eleições?”, escreveu em um dos tuítes. Conhecido pelas posições conservadoras, ele já defendeu na mesma rede social o projeto do “Escola sem Partido”, que a Constituição Federal garante ao brasileiro “o direito de ter preconceito”, além de criticar veementemente o debate de gênero e a ampliação de direitos da população LGBTQ. O Facebook ainda não se manifestou sobre o pedido vindo do MPF/GO.

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