Além de “La La Land”, conheça outros trabalhos do compositor Justin Hurwitz

Compositor foi indicado em categorias do Oscar, além de conquistar o BAFTA e o Globo de Ouro de 2017 pelo trabalho no musical
Da esquerda para a direita: Ryan Gosling e o compositor Justin Hurwitz no set de “La La Land-Cantando Estações” (Foto: Dale Robinette/Summit)

Atualizado em 06/06/2021 · 18:09 (BRT)

Por Tiago de Moraes

Dificilmente um novato conseguiria repetir o feito do compositor norte-americano Justin Hurwitz. Três das 14 indicações ao Oscar de La La Land: Cantando Estações foram por causa da atuação do músico. Com apenas três filmes no currículo, Hurwitz tem mais chances de levar a estatueta dourada para casa do que o próprio diretor Damien Chazelle e as estrelas Ryan Gosling e Emma Stone.

Todos os concorrentes são azarões quando comparados com o hype envolvendo o trabalho do compositor no musical dirigido por Chazelle. Considerando a tendência da academia de valorizar os musicais — já que neste gênero as canções são mais importantes para a narrativa do que em outras produções — o longa é inegavelmente o principal favorito.

Thomas Newman, apesar de ser o mais experiente entre os concorrentes deste ano, não teve muita sorte com Passageiros, um fracasso de bilheterias e de crítica. A presença do filme na lista é uma surpresa. Micha Levi (Jackie), Nicholas Britell (Moonlight: Sob a luz do luar) e Dustin O’Halloran e Hauschka (Lion: Uma jornada para casa) também foram indicados, mas a maré está mesmo a favor de La La Land.

Na categoria de melhor canção original, Justin acumula duas indicações pelas músicas City of Stars e Audition (The fools who dream), com letras escritas por Benj Pasek e Justin Paul. O filme é duplamente favorito pelos mesmos motivos citados anteriormente, além do histórico favorável a produções que fazem referência ao cinema.

Em entrevista para o Harvard Gazette, Hurwitz conta a ideia do musical surgiu em 2011. O compositor e o diretor Damien Chazelle eram colegas de quarto em Harvard e logo viraram amigos. Durante um certo tempo os dois até tocaram na mesma banda — Justin no piano elétrico e Damien na bateria — antes da parceria ir para o campo profissional.

“Na época, ele estava escrevendo roteiros e dirigindo curtas-metragens para o Departamento de Estudos Ambientais e Visuais de Harvard e eu comecei a realmente apreciar quem ele era como escritor e diretor. E ele estava assistindo no que eu estava trabalhando, compondo… e começou a apreciar o que eu faço”, conta Hurwitz na entrevista.

O primeiro filme da dupla foi a tese da faculdade de Chazelle, o musical jazzístico Guy and Madeline on a Park Bench (2009). A produção ganhou corpo e causou alvoroço no Festival de Cinema de Tribeca no ano seguinte. Gravado em filme preto e branco 16 mm e com um elenco de atores não-profissionais, o enredo conta a história de idas e vindas de um casal unido pelo jazz. Guy, um trompetista de jazz de Boston, decide viajar até Nova York em busca da ex, Madeline, depois de concluir que o término foi uma das piores decisões de sua vida.

A produção é considerada a precursora de La La Land. As composições orquestrais de Justin Hurwitz foram executadas pela Orquestra Sinfônica de Bratislava, algo extraordinário para uma produção independente de orçamento limitado. Chazelle compôs as letras das músicas e os números de jazz contidos no filme foram realizados quase todos ao vivo. (Ouça a trilha no player abaixo com destaque para as faixas ‘Boston’ e ‘Theme End Credits’).

A escrita de Hurwitz para orquestra segue o mesmo estilo de compor de Bach, com harmonias cheias de pequenas melodias em vez de apenas blocos de notas.

Chazelle convidou novamente o amigo para a trilha de Whiplash- Em Busca da Perfeição (2014), mas com uma proposta diferente. Ao lado de Tim Simonec, o compositor trabalhou nas performances de jazz tocadas no filme, resgatando músicas lendárias como Caravan de Juan Tizol e Whiplash de Hank Levy. (Ouça a trilha abaixo)

O enredo que narra a história de um baterista que ultrapassa seus limites físicos e emocionais para ser respeitado como músico pelo seu professor trouxe o sucesso e a repercussão que Damien precisava para tirar a ideia de La La Land da gaveta.

Cidade das estrelas

Estrelado por Ryan Gosling e Emma Stone, La La Land: Cantando Estações transborda homenagens aos musicais das décadas de 50 e 60. A trilha sonora também. The Umbrellas of Cherbourg (1964) e The Young Girls of Rochefort de Jacques Demy (1967), foram algumas das inspirações de Hurwitz para o longa.

Contudo, o que torna a trilha de La La Land especial é justamente a capacidade criativa de Justin Hurwitz apresentar um som único, mesmo mergulhado em tantas ideias. Nada soa pretensioso ou exagerado, algo difícil de alcançar em um musical que combina de tudo um pouco.

A presença do músico se deu quase em todas as etapas da produção. Na performance de Audition (The fools who dream), por exemplo, Hurwitz assumiu o piano na canção interpretada por Emma Stone, como ele mesmo conta em entrevista ao podcast Song Explorer. “Não era um estúdio convencional. Emma estava cantando ao vivo no set. Eu estava acompanhando-a no piano, deixando-a conduzir a música”, explica. (Ouça a entrevista completa, em inglês)

https://soundcloud.com/hrishihirway/song-exploder-la-la-land

Entre as faixas instrumentais, o jazz é o protagonista. Os scores são como diálogos repletos de perguntas e respostas entre os instrumentos e todos os naipes solam em algum momento. Neste aspecto se destacam: Herman’s Habit, Surprise e Cincinnati.

O ponto alto é o tema de Mia e Sebastian, que serve como fio condutor melódico na maioria dos temas. Hurwitz apresenta, desenvolve e conclui a ideia musical, deixando uma sensação de melancolia. Há outros momentos deleitosos como a valsa envolvente em Planetarium, a delicada Engagement Party ou o turbilhão de emoções em Epilogue, que serve como uma retrospectiva de todos os momentos mágicos do filme. Depois de levar o BAFTA e o Globo de Ouro de 2017 pelo musical, o talentoso compositor e músico tem vários atributos para conquistar a primeira estatueta da carreira.

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