◉Atualizado em 30/04/2020 · 20:55 (BRT)
Atualizado às 22h27 de 20/8/2019
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Cerca de 15 milhões de brasileiros usaram drogas ilícitas em algum momento da vida, mas o consumo de álcool ganha disparado na preferência nacional. É o que revela o levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado na quinta-feira (8), após meses de impasse entre a instituição e o governo federal por causa de discordâncias sobre os resultados e da metodologia utilizada na pesquisa, encomendada durante a gestão de Dilma Rousseff (PT).
O estudo — que ouviu mais de 16 mil pessoas de 12 a 65 anos — apresenta um panorama sobre o consumo dos brasileiros de drogas como álcool, tabaco, remédios e substâncias ilícitas. Cada participante respondeu um questionário composto de 25 páginas, aplicado pelo pesquisador no próprio domicílio do entrevistado. Realizado entre 2014 e 2017, o trabalho envolveu ao todo 300 profissionais, incluindo entrevistadores de campo, especialistas e cientistas da área de epidemiologia e estatística, e teve um custo de R$ 7 milhões aos cofres públicos.
De acordo com o levantamento, pelo menos 46 milhões (30,1%) consumiram álcool nos 30 dias anteriores à pesquisa e aproximadamente 2,3 milhões de pessoas apresentaram indícios de dependência alcoólica nos 12 meses anteriores à aplicação do questionário. O relatório alerta ainda que grande parte dos brasileiros não associa riscos ao consumo de bebidas, o que contraria estudos científicos sobre a letalidade do abuso de álcool tanto à saúde do usuário quanto para terceiros.
Já o crack é apontado como a droga mais perigosa na percepção da população (44,5%). No entanto, o dossiê da Fiocruz não classifica o número de usuários da droga como epidemia, nem o consumo de outras substâncias ilícitas — parecer que contradiz o discurso defendido pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).
A polêmica começou em maio, quando o Ministério da Justiça e Segurança Pública — que encomendou o levantamento — acusou a Fiocruz de descumprir exigências previstas no edital de lançamento e proibiu a divulgação do relatório com o nome do gabinete constando entre os realizadores. Segundo o gabinete de Sérgio Moro, não é possível comparar os dados do inquérito com os dois últimos estudos sobre o tema, o que impossibilita, por exemplo, identificar aumentos ou recuos no consumo de entorpecentes no país.
No auge do impasse, o Ministro da Cidadania, Osmar Terra, colocou em xeque a credibilidade do instituto e chegou a afirmar, em entrevista à GloboNews, que a “Fiocruz tem o viés de defender a liberação das drogas”. Terra rebateu as acusações de que o veto seria uma forma de censura, mas a decisão do governo federal recebeu críticas de entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Por outro lado, a Fiocruz argumenta que cumpriu todas as exigências propostas e que o trabalho em questão é mais abrangente se comparado aos levantamentos anteriores, usando metodologias semelhantes às aplicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A Advocacia Geral da União (AGU) intermediou o acordo preliminar entre o ministério chefiado por Moro e a fundação para liberar o relatório, que está disponível para consulta na internet — mas sem a chancela do Ministério da Justiça.
O consumo de bebidas alcoólicas é maior entre os homens — 28,7 milhões relataram que beberam pelo menos uma vez nos 30 dias que antecederam o questionário e 17,8 milhões tomaram cinco ou mais doses na mesma ocasião, ou seja, o chamado binge drinking. Já entre as mulheres, cerca de 17,2 milhões ingeriram álcool no mês anterior a pesquisa e 7,5 milhões beberam quatro ou mais doses no mesmo evento.
Os pesquisadores também abordaram a relação do álcool com diferentes formas de violência. O relatório detectou que aproximadamente 14% dos homens brasileiros de 12 a 65 anos dirigiram sob o efeito de bebidas alcoólicas, nos 12 meses anteriores ao levantamento. A mistura de álcool e o volante foi relatada por 1,8% das mulheres.
Cerca de 4,4 milhões de pessoas afirmam ter participado de uma discussão depois de ingerir álcool, pelo menos uma vez nos 12 últimos meses à aplicação das perguntas. Destes, 2,9 milhões eram homens e 1,5 milhão, mulheres. Em outro tópico, 1,1% dos brasileiros disseram ter destruído ou quebrado algo que não era seu por causa da bebida, ante 0,3% das brasileiras.
O relatório mostra ainda que 51 milhões de brasileiros já usaram cigarro alguma vez na vida. No ano anterior à pesquisa, aproximadamente 26,4 milhões de brasileiros de 12 a 65 anos consumiram pelo menos um produto de tabaco, o que representa 17,3%. O cigarro industrializado é o mais consumido (15,4%), mas cerca de 3 milhões de pessoas dentro do grupo populacional fizeram uso de outros tipos, como os cigarros artesanais.
Quase 4,9 milhões de pessoas responderam que usaram alguma substância ilícita nos 12 meses antes da entrega do questionário. E o percentual é maior na faixa etária de 18 a 24 anos. A maconha foi a droga criminalizada mais consumida, sendo que 7,7% usaram pelo menos uma vez na vida e 3,1% dos brasileiros disseram que já experimentaram cocaína. O consumo de crack foi apontado por 0,9% dos entrevistados, o que representa 1 milhão e 400 mil pessoas entre 12 e 65 anos.
De acordo com o dossiê da Fiocruz, a quantidade de mulheres que usam remédios sem prescrição médica é maior do que na população masculina (4% ante 2% nos últimos 12 meses). Os tipos mais citados são anabolizantes, anfetamínicos, anticolinérgicos, barbitúricos, benzodiazepínicos e opiáceos.
As comunidades e fazendas terapêuticas são os destinos procurados pela maior parte das pessoas que buscam ajuda para o controle do vício em drogas. Na sequência, foram mencionadas as unidades de acolhimento, os Centros de Atenção Psicossocial, os consultórios de rua, os hospitais de emergência e os grupos de auto-ajuda.
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