◉Atualizado em 30/04/2020 · 17:53 (BRT)
Tiago de Moraes, João Rafael Venâncio
A disputa de quem será o presidente da república nos próximos quatro anos será entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). O deputado federal pelo Rio de Janeiro e o ex-prefeito de São Paulo foram os dois candidatos mais votados no primeiro turno das eleições gerais realizadas neste domingo (7), com ampla vantagem do candidato ultradireitista. Bolsonaro obteve 46,03% dos votos válidos enquanto Haddad recebeu 29,28% da preferência dos eleitores, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O capitão reformado do Exército conquistou quase 18 milhões de eleitores a mais que o rival petista. Ganhou força também como puxador de votos de aliados no Congresso e nas disputas dos governos estaduais. Com apenas um deputado eleito pelo partido em 2014, o PSL terá a partir do ano que vem a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, com 52 cadeiras conquistadas, sendo 12 deles no Rio de Janeiro, principal reduto eleitoral do presidenciável. Com 99,99% das urnas apuradas, Ciro Gomes (PDT), ficou em terceiro lugar na disputa, com 12,47%.
Mesmo tendo o mais tempo de TV — e, oficialmente, mais aliados políticos que os adversários — , Geraldo Alckmin (PSDB) terminou a campanha mais distante do segundo turno do que as pesquisas de intenção de voto detectaram na última semana. Amargou a quarta posição com 4,76% da preferência dos eleitores. Retirados da etapa final pela primeira vez em 24 anos, a votação pífia do PSDB resultou tanto no fim da hegemonia tucana como representante da direita nas últimas seis disputas eleitorais quanto na diminuição drástica da bancada do partido no Congresso. O PSDB elegeu apenas 29 deputados federais neste ano, ante 54 cadeiras conquistadas em 2014.
Desidratação em parte explicada pela adesão de palanques estaduais de aliados de Alckmin na campanha bolsonarista às vésperas do primeiro turno, inclusive em São Paulo, onde o presidenciável — reeleito governador em 2014 com facilidade — não conseguiu a projeção esperada nem com o apoio do próprio partido, nem do PSB.
Outros candidatos no espectro político de centro também não convenceram os eleitores como uma alternativa menos polarizada. João Amoêdo (Novo) teve 2,50%, sendo seguido por Henrique Meirelles (MDB), Cabo Daciolo (Patriota) e Marina Silva (Rede), ambos na faixa de 1% dos votos válidos. Os brasileiros voltam às urnas no próximo dia 28 de outubro.
Haddad fala em dialogar com rivais do 1° turno e Bolsonaro critica as urnas eletrônicas
No primeiro pronunciamento após a confirmação que iria para o segundo turno da disputa presidencial com Bolsonaro, ainda na noite deste domingo, o candidato Fernando Haddad sinalizou que está disposto a conversar com os presidenciáveis que ficaram no primeiro turno já nos próximos dias de campanha. “Tenho muita consideração por todos e a ideia é manter o diálogo aberto”, disse no discurso.
O PT perdeu 13 cadeiras no Congresso em comparação com 2014. No entanto, será o partido com mais parlamentares no próximo mandato, conquistando 56 cadeiras. Apesar de conter as previsões mais pessimistas, nomes significativos do partido ficaram fora do Senado, a exemplo de Eduardo Suplicy (SP), Lindbergh Farias (RJ) e a ex-presidente Dilma Rousseff (MG).
Desde que entrou na disputa eleitoral — quando a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indeferida pelo TSE — Haddad sinalizou que iria buscar apoio de políticos de centro-esquerda. Os primeiros acenos de volta surgiram poucas horas depois da apuração. Ao ser questionado por jornalistas sobre o resultado das urnas, o então candidato Ciro Gomes descartou de antemão a hipótese de apoiar Bolsonaro nesta etapa. “Ele não, sem dúvida”, resumiu.
Em seu discurso na presença de dezenas de apoiadores, correlegionários e aliados, Fernando Haddad adiantou a possível abordagem da campanha durante o segundo turno — principalmente para diminuir a vantagem expressiva do candidato do PSL — e se comprometeu em “usar a força do argumento para defender o Brasil e seu povo, sobretudo o povo mais sofrido”.
“Esta eleição coloca muita coisa em jogo. O próprio pacto da Constituinte de 1988 está em jogo em função das ameaças que sofre quase diariamente”, afirmou Fernando Haddad (PT).
Jair Bolsonaro, por sua vez, preferiu se pronunciar aos eleitores por meio de uma transmissão ao vivo pelo Facebook, estratégia adotada pelo candidato e aliados desde que Bolsonaro sofreu um atentado a faca em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro.
“Temos tudo para sermos uma grande nação. Temos que unir o nosso povo, unir os cacos que nos fez o governo da esquerda no passado. […] Ninguém tem o potencial que nós temos”, defendeu o ex-capitão do Exército, ao lado do economista e membro da campanha Paulo Guedes. Além de criticar o adversário e o PT, Bolsonaro prometeu “botar um ponto final em todos os ativismos do Brasil”.
Em outro momento do pronunciamento, o candidato à presidência voltou a questionar a “lisura” do processo eleitoral. Bolsonaro mencionou um vídeo —compartilhado pelo filho do presidenciável no dia de votação — no qual um eleitor seleciona a tecla “1” e aparece automaticamente o candidato Fernando Haddad na urna.
“Vamos junto ao TSE exigir soluções para isso que aconteceu agora, e não foi pouca coisa, foi muita coisa. Tenha certeza: se esses problemas não tivessem ocorrido, e tivéssemos confiança no voto eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente da República decidido hoje”, acusou Bolsonaro.
O vídeo citado é fake, segundo o TSE, que compartilhou outra gravação, na qual um técnico de edição mostra como a montagem foi feita (veja abaixo).
A Justiça Eleitoral também se manifestou sobre o caso em seu site. “O vídeo que circula na internet no qual a urna, supostamente, “auto completa” o voto para presidente também é falso. Os vídeos não mostram o teclado da urna, onde uma pessoa digita o restante do voto. Não existe a possibilidade de a urna auto completar o voto do eleitor, e isso pode ser comprovado pela auditoria de votação paralela”.
Desempenho nos estados
Apesar do notável favoritismo no segundo turno — e ainda a proeza de emplacar os filhos e correlegionários, as críticas ao processo eleitoral feitas pelo candidato à presidência Jair Bolsonaro refletem a quebra de expectativas da campanha do militar reformado nos últimos dias, cujo desejo escancarado era levar o pleito na primeira etapa.
O candidato conservador do PSL teve a maioria dos votos válidos em 16 estados e no Distrito Federal, e conquistou resultados mais expressivos no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país. Já Fernando Haddad (PT) ganhou em nove estados, a maioria no Nordeste, menos no Ceará, onde Ciro Gomes teve a maior votação, com 41% dos votos válidos. No reduto eleitoral do presidenciável do PDT, Bolsonaro ficou em terceiro lugar.