◉Atualizado em 30/04/2020 · 17:31 (BRT)
Ao infinto… e além (de novo). Depois de entregar uma terceira sequência impecável - e até conclusiva - para a saga de Woody, Buzz Lightyear e sua turma, a Disney e a Pixar resolveram encomendar mais um filme para a franquia “Toy Story”. Apesar da clara motivação financeira - só o longa de 2010 fez mais de US$ 1 bi nas bilheterias - , a nova aventura, que estreou recentemente, surpreende e mantém o elevado nível de qualidade das anteriores, mérito da equipe liderada por Josh Cooley.
Outra produção que retornou nos últimos dias é a série alemã “Dark” - um ano e meio depois da estreia da primeira temporada. Mas a demora tem justificativa dentro da trama misteriosa do seriado da Netflix, que envolve viagens no tempo, segredos familiares e os conflitos que rondam os moradores de uma cidade pequena, porém nada pacata.
No cardápio de novidades da semana consta também o curta musical distópico “ANIMA”, com composições de Thom Yorke, do Radiohead, e direção de Paul Thomas Anderson, além da nova edição do romance de “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger.
Cinema: “Toy Story 4”
Desta vez, Woody, Buzz e o resto da turma embarcam em uma viagem com Bonnie e um novo brinquedo chamado Garfinho, que a própria garotinha montou. Porém, o garfo se nega a aceitar a nova condição e insiste que seu lugar é na lixeira, para o desespero de Woody em suas tentativas frustradas de mostrar ao novato a importância de um brinquedo na vida de uma criança.
Um desvio inesperado- provocado por Garfinho - reúne novamente o xerife com uma amiga há muito tempo perdida, Betty. A boneca de porcelana está mudada. Mais destemida, aventureira e independente, Betty mostra a Woody que existem outras possibilidades para um brinquedo, incluindo não ter um dono.
Ao invés de trazer mais uma trama batida de “encontrar o seu lugar no mundo” (e consequentemente outra sequência de filme de animação dispensável), o quarto longa consegue tratar de forma tridimensional questões existencialistas mais próximas do público adulto- e que cresceu com a franquia. Principalmente em Woody, o herói que se sente deslocado, sem utilidade e incapaz de cuidar da Bonnie como fazia com Andy.
Tudo isso sem deixar de entreter os pequenos de hoje, função desempenhada muito bem pelos novos personagens. O resultado é um filme emocionante, divertido e agridoce. (Duração: 1h40; Classificação etária: livre).
Livro: “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger
Uma das obras literárias mais relevantes do século XX, “O Apanhador no Campo de Centeio” ganhou uma nova edição brasileira pela editora Todavia, desta vez com a mesma capa do original, mas com a tradução atualizada.
O romance do célebre escritor norte-americano narra um final de semana do adolescente rebelde e problemático Holden Caulfield. Após mais um ano tendo um péssimo desempenho escolar e algumas escolhas duvidosas, o rapaz decide adiar o retorno à casa dos pais para vagar pelas ruas de Nova York. Os dias seguintes serão marcados por conflitos, brigas e algumas indagações pertinentes.
Com mais de 70 milhões de exemplares vendidos desde o lançamento, em 1951, “O Apanhador no Campo de Centeio” é a obra que melhor define Salinger, que influenciou e inspirou gerações com sua abordagem crua da juventude e sua prosa dinâmica e desbocada, sendo também dono de um senso de humor feroz. (256 páginas, editora Todavia; a partir de R$ 39,90).
Série: “Dark”
Primeira série alemã produzida pela Netflix, “Dark” se tornou rapidamente um fenômeno global pouco depois do lançamento, em dezembro de 2017, um feito comparável a outros sucessos da plataforma como “Stranger Things” e “La Casa de Papel”.
A história, que parte de um grupo de adolescentes de uma cidade pequena investigando o desaparecimento de uma criança—daí as semelhanças com a série dos irmãos Duffer—, aos poucos se amplia para uma envolvente (e complexa) trama de ficção científica e suspense sobrenatural envolvendo viagens temporais, buracos de minhoca e uma seita macabra de viajantes que atuam nas sombras para controlar o rumo de eventos no passado, presente e futuro.
Nos novos episódios, mais incógnitas são acrescentadas no emaranhado. Jonas, ao tentar destruir o portal que desloca as pessoas através do tempo, é levado ao ano de 2052 e se choca com o cenário estéril de uma Terra devastada por um apocalipse nuclear, o qual o jovem tenta a evitar a todo custo. Enquanto isso, os demais personagens—em décadas distintas—precisam lidar com escolhas difíceis, traições e revelações chocantes.
A série também ganha mais ritmo com a redução no número de episódios em comparação com o ano anterior, já que não há mais a necessidade de apresentar aos espectadores os vários núcleos familiares e personagens distribuídos em diferentes épocas. Estabelecidos, os personagens secundários e as adições ao elenco contribuem para expandir as ramificações da trama, além de alternar os pontos de vista.
Ninguém é absolutamente bom ou mau, mas alguns possuem motivações mais egoístas do que outros, suficientes para gerar consequências catastróficas. Ao apresentar uma formidável distopia acinzentada, “Dark” estabelece de vez um opulento e promissor cânone próprio, mantendo o suspense no alto e sem se preocupar em entregar respostas definitivas. Ao menos por enquanto, pois a terceira temporada (já confirmada pela plataforma) será a última. (Oito episódios; Classificação etária: 16 anos).
Música: “ANIMA” de Thom Yorke
Músico, ativista dos direitos humanos e dono de uma língua afiada, Thom Yorke, vocalista do Radiohead, apresenta sua nova investida solo, o álbum e curta musical “ANIMA”. Ao longo de nove faixas, Yorke trata de suas aflições em relação aos rumos da sociedade e do desenvolvimento tecnológico, mas também passeia pelos seus sonhos, pesadelos e expectativas.
Nesse espaço entre a crítica social e os monólogos internos, “ANIMA” é o registro mais visceral da discografia solo do britânico e também o que mais se difere da sonoridade do Radiohead. Em alguns momentos de forma exagerada ou contida, o artista faz uso de sintetizadores, experimentações com batidas eletrônicas oitentistas e vocais processados—até várias e várias vezes—flutuando pela euforia ou pela introspecção.
Trabalhado na forma de curta musical nas mãos do diretor Paul Thomas Anderson, “ANIMA” transforma as faixas “Not the News”, “Traffic” e “Dawn Chorus” em uma suíte audiovisual estonteante, distópica e coreografada, na qual uma viagem monótona de metrô leva a uma sequência de devaneios, acompanhando Yorke enquanto ele segue outra passageira (Dajana Roncione) que estava no mesmo vagão ao longo de um curso subterrâneo labiríntico. (Álbum: Duração: 47 min; Disponível no Spotify, Deezer, YouTube Music e Apple Music / Curta: Duração: 15 min; Classificação etária: 10 anos).
Documentário: “Democracia em Vertigem”
Outra adição de destaque no catálogo da gigante do streaming é o documentário “Democracia em Vertigem”, dirigido pela cineasta Petra Costa (“Elena” e “Olmo e a Gaivota”).
O longa-metragem político analisa a ascensão e a queda dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, entrelaçando as expectativas e até as memórias pessoais da diretora com os desdobramentos dos escândalos de corrupção envolvendo o governo, o processo de impeachment de Dilma e os bastidores da prisão do ex-presidente Lula.
Elogiado pela crítica especializada internacional e ovacionado nos principais festivais de cinema, o documentário trata de forma angustiante o aumento da polarização da sociedade brasileira diante das reviravoltas da política nacional, enquanto aponta o crescimento da intolerância e do discurso de ódio.
Justamente por conta disso, não é de se estranhar a recepção dividida no país, sendo avaliado tanto com críticas massacrantes quanto considerações elogiosas pelos veículos de imprensa e o público. O filme, a despeito da depreciação de seus críticos, desde o princípio assume uma posição clara—mais próximo da esquerda—e escancara, inclusive, as relações familiares de Costa e a proximidade da cineasta com figuras importantes da política, como Aécio Neves, Lula e Dilma.
Não se trata de um documentário que tenta se passar por isento ou imparcial. A subjetividade é parte presente—e importante—da narrativa, na qual as observações honestas fornecem um relato envolvente e melancólico do que Petra Costa enxerga como o iminente crepúsculo da democracia brasileira. (Duração: 2h; Classificação etária: 12 anos).